A @lilianecoelho_ falou outro dia sobre um concurso de redação na quarta série.


Lembro dele sempre que vou a uma papelaria. Olho para todas aquelas coisas e sinto, de novo, a alegria de estarmos soltas na Livraria Capital para gastar o prêmio em tudo o que quiséssemos. Eram papéis de carta, estojos, canetinhas, cadernos, borrachas perfumadas… tudo o que a gente amava e não costumava caber na lista (nem no orçamento).
Amei dividir isso com ela. Mais que tudo, amei proporcionar isso para gente.


Sempre partilhamos livros e sentamos juntas. Só o que era de cada uma eram os cadernos e as mochilas. Tínhamos coisas bonitas, escolhidas a dedo, mas nunca em excesso.


Essa foi a primeira vez que tivemos permissão para exagerar. E, o maior excesso foi de euforia.
Sobrou para anos. Sobrou em nós uma alegria. O perfume do papel, das “borrachas cheirosas” com formatos divertidos; a decisão de levar ou não coisas iguais (muitas vezes fazemos isso porque gostamos das mesmas coisas), mas com estampas diferentes.


Sobrou a certeza que ficou guardada: a de que a escrita já era uma forma de expressão. E ela era nossa.
Nunca estudei para escrever. Os livros foram minha escola. Faço de maneira intuitiva e, nessa quarentena, de maneira louca, como a Li anda dizendo.


As palavras e textos vêm enquanto durmo. E chegam de maneira tão furiosa que preciso me levantar.
A vontade é de escrever nas paredes, nas coisas…


Sei que é minha maneira de externar tudo que acontece agora e talvez seja porque esta é a primeira vez que pude parar para me dedicar à escrita. Faltava tempo e coragem de olhar para todas as lembranças.


Desse concurso, lembro da vergonha do palco para receber o prêmio, da mamãe e a Li na platéia emocionadas e de receber um abraço apertado do deputado com sobrenome japonês. Ele leu meu texto e disse que foi curioso ver alguém falando sobre trânsito daquele jeito. Nunca consegui pronunciar o nome dele, mas me sentia a pessoa mais importante do mundo quando no Natal, por vários anos, recebia um cartão, escrito à mão, dizendo para ter “boas festas”.


São essas coisas que marcam a gente. Não foi o prêmio. Não era importante se a secretária dele era quem escrevia os cartões. Não importava se nossos materiais escolares teriam fim.


É importante o que guardei em mim. Pequenas certezas sobre o valor de receber palavras de quem se importa. Que as pessoas que nos amam verdadeiramente são as primeiras a chegarem e as últimas a irem embora. Que o que nos deixa vulneráveis é o que mais nos faz fortes.


E agora, diante desses dias loucos aqui em casa, entendi que quero escrever, aprender a editar, ter ritmo e relevância.


E quem vai me ensinar é minha redatora preferida no mundo. E por sorte, ela mora bem do lado da minha casa.

( A trilha. Sim. Tímidos dançam. )

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