Mais de 20 anos morando na mesma casa.
E era só um tempo para gente reformar a antiga. Mamãe não quis voltar porque estragaram as coisas dela na mudança. E a gente ficou.

Quando chegamos, a casa pareceu o melhor dos lugares. Tinha quintal grande, uma mangueira antiga e o outro dono adorava cachorros. Tinha um canil para eles.

Era tudo novo. Distante de tudo, mas era um recomeço. Especialmente pros nossos pais.
Então, ganhamos novas cortinas no quarto e nossas camas foram pintadas de novo. Agora de branco.

Tem um perfume que lembra essa fase. E uma trilha sonora que ficou esquecida.

Nessa casa uma panela já explodiu e eu já invadi a sala de jantar com meu primeiro carro. (Esse era só meu).

Nosso quarto agora é para visitas. E durmo nele toda semana. Ele ainda tem estrelas coladas no teto, mas elas não acendem mais.

Nessa casa uma cadeira de balanço que era dele, e que ainda fica no mesmo lugar, mas agora vazia.

O alarme ainda é acionado com chave, e é a mamãe que arma e desarma. Ela sempre xinga quando faz isso. E acho engraçado, porque antes os palavrões eram do papai, enquanto esperava do lado de fora as tentativas dela.

Objetos desceram de prateleira e muitas fotos dele ocupam o hall de entrada. Minha maneira de fazer a gente olhar para suas fotografias toda vez que abrimos a porta. É difícil e dolorido. Ás vezes não consigo olhar para elas, mas leio o Salmo 91, impresso, e em porta-retrato.

Devagar, textos sobre ele devem ter menos espaço por aqui.

Quando essa hora chegar, deve ter mais saudade que tristeza.

Devagar, plantas e almofadas novas tem vindo morar na casa deles.

Coisas pra ela se ocupar, e cores para essa vida que agora diz não querer nada. Nem ficar bonita.

Devagar mãe.
Vamos dar conta.

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