Como ensinar a ter equilíbrio? Como se, muitas vezes, ele nos falta? Como dizer que, uma hora, a gente cresce e ninguém mais vai amarrar os nossos cadarços, pentear o nosso cabelo ou trazer a bicicleta para casa quando estivermos cansados?

Miguel deixou de ser o único filho aos seis anos. Foi quando a Maya nasceu. Junto com a divisão das gavetas, vieram dois pais cansados e uma nova rotina.

Nesse ano, a “Fada do Dente” deixou moedas e não um presente com o bilhete escrito a mão. O Papai Noel só recolheu a cartinha poucos dias antes do Natal e uma bicicleta não esperada chegou.

Ele nunca pediu nada parecido, mas resolvemos arriscar esperando que fosse bom não viver só do lado de dentro.

Quatro anos depois e a gente conseguia contar as vezes em que Miguel e a bicicleta saíram juntos.

Todas as conversas, todos os conselhos, todos os exemplos e nada! Como ela teria chance se não constrói casas no Minecraft e não tem milhões de acessórios como os espiões nos filmes de aventura?

O Zé já estava pronto para criar o anúncio no @mercadolivre quando eu disse: “Tudo bem, pode vender. Mas antes, ele vai aprender a andar”.

Comecei empurrando um garoto mal humorado que fazia questão de me irritar para ir logo para casa e voltei com um menino mais confiante que disse: “Obrigado por não desistir de me ensinar”.

Em quase duas horas juntos, eu quase virei as costas e fui embora. Mas, em vez disso, respirei fundo e pensei no Senhor Miyagi de “Karatê Kid”. Perguntei se ele lembrava da cena em que Daniel San ensinava o aluno a fazer os movimentos em cima de uma árvore, na série “Cobra Kai” e ele disse que sim. Falei: “Hoje você vai aprender a encontrar o seu equilíbrio”.

Posicionei a bicicleta perto da linha pintada no piso e disse para ele ir sozinho. Antes, ensinei a organizar os pedais, mostrei o que fazer se estivesse prestes a cair e disse: “Agora é com você”. Demorou, mas ele ficou várias vezes, ainda que por poucos segundos, com os dois pés nos pedais.

Muitas caras feias depois, ontem chegamos na quadra às 5h30 da manhã.

Para um garoto de nove anos, equilíbrio é isso. ❤️

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