Venho tentando me lembrar da primeira vez em que me senti mãe. Quase dez anos depois do primeiro filho, às vezes me perco em meio a tantos dias, memórias e sensações.

Hoje acordei desejando ter essa clareza de presente e me lembrei do dia em que descobri que estava grávida. Meu amor maternal não nasceu ali, no momento em que vi um pontinho pulsando na tela do ultrassom.

Sozinha na sala e depois de ter passado mal varias dias sem saber o que estava acontecendo, só conseguia sentir medo e falta de ar, como se uma força enorme estivesse esmagando meus pulmões.

Não era ruim. Nem triste. Era um vazio de não saber o que sentir, como se eu não tivesse permissão para ser. Como se essa coisa bonita não tivesse sido inventada pra mim. Minhas irmãs e o Zé me esperavam do lado de fora e, depois de dizer a frase: “estou grávida” aos prantos, saímos do hospital em direção ao carro.

Foi ali, ao atravessar a rua, que levei as mãos à barriga pela primeira vez. Junto com um bilhão de coisas que passavam pela minha cabeça, só conseguia pensar: “não posso ser atropelada”.

Acho que comecei a me sentir mãe ali, quando imaginei que poderia, com um gesto tão simples, proteger o que guardava dentro de mim.

Desde então, minha experiência como mãe ganhou forma, rostos, perfumes, sons e risadas que vão se juntando como páginas de um livro, notas de música.

Sem saber direito que história estou escrevendo, sigo tentando acertar. Sigo tentando fazer por merecer esse presente complexo, bonito, emocionante e sem receitas que é ter um filho. Agora dois.

Ver meu celular cheio de fotos deles hoje, saber que estão crescendo um com o outro, que não falta amor, conversa e carinho, me fez perceber que sim, estou inventando o meu jeito de ser mãe. E nele, hoje não me falta nada.

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