Às vezes a gente vai morar no medo. Se deixa guardar dentro dele e nem percebe. Eu cresci tentando vencer os meus e, no começo, não eram muitos. O de água, me acompanha até hoje. Acho lindo, e também sombrio, pensar que, dentro dela, a gente se perde. Perde o ar e perde o fôlego enquanto afunda, pra depois flutuar.

Assim como tantas outras coisas da vida, a água está cheia de belezas e de perigos e, mergulhar, apesar de um sonho, sempre me pareceu um grande risco.

Acontece que a água não é o único espaço em que é possível mergulhar. E, pra minha sorte, em alguns outros, me sinto à vontade. No trabalho, nos livros, na música e em mim mesma, eu sempre soube.

Agora, estou aprendendo a mergulhar na maternidade e espero melhorar bastante, de preferência, sem me afogar. Quero aprender também a mergulhar no silêncio pra que ele não me incomode. Quero mergulhar mais vezes nos melhores abraços que tenho, nos planos e sonhos, por mais que pareçam distantes e, quem sabe, um dia, em Fernando de Noronha, o mergulho mais azul e transparente.

Quero ser capaz de vencer esse medo da água, ainda que tarde, pra que eu não more mais nele e, nem ele em mim. Profundo isso, né? Mas é verdade.

Registro da Chris como um presente pra nossa irmã Gleida que ama (e não teme) as águas do Manso.

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