Nosso pai nos deixou este ano.

Numa quarta-feira, tivemos que nos despedir dele, escolher o que ele deveria usar, quem iríamos avisar, como cuidar da nossa mãe e da vida que estava diferente, mas diante de nós.

É incrível como situações assim não tem descrição.

Não tem consolo. Nessas horas a gente pode ter toda lucidez e auto controle, mas sempre precisa de alguém mais forte para nos segurar, para resolver as coisas burocráticas… Nós tivemos pessoas assim. Estamos tendo.

Mas o motivo de abrir isso para vocês é apenas dizer o que a fotografia representou nesse tempo. E mais uma vez, digo que ela me fortaleceu.

A gente nunca acha suficiente o que fez quando alguém que amamos parte. Pensei nos fins de semana que não estive com ele, nas coisas que eu fazia, e que ele na sua idade e simplicidade, sequer entendia… E quando precisei escolher fotos para lembrança funerária tive uma espécie de pânico, sei lá… A sensação que eu tinha era que mesmo sendo fotógrafa não tinha foto alguma do nosso pai.

Procurar por elas se transformou num conforto. A cada arquivo que resgatava, e em toda as imagens dele feliz e ao nosso lado, eu me lembrava de coisas lindas que ele me fez sentir.

Me lembrava de quando fingia dormir no colo dele, “enquanto os adultos “ conversavam. Me lembrava que eu fazia isso só para ele me levar no colo para cama. Me lembrava do apelidos que ele usava quando não sabia me distinguir da Li (a minha gêmea); de todas as vezes que ele defendeu meus pontos de vista, mesmo antes que eu estivesse certa sobre eles; de como ele adorava pentear nossos cabelos até no meio da rua; e de como mesmo todo desajeitado, ele foi perfeito para nós.

Ele sempre soube do nosso caráter, do que a gente gostava e nunca duvidou de nossas escolhas.

Se foi prestes a completar 86 anos, e depois dos 70, ficou muito difícil para mim tirar fotos dele. Difícil ver quem a gente ama passar pelas transformações dolorosas da vida, né?! Acho que eu não queria guardar imagens tristes. Mas nisso tudo, digo a vocês: fotos são importantes demais.

São motivos de esperança. São pacotinhos de alegria (e saudade) que a gente abre quando o coração aperta muito.

Por isso, se atreva a fazer. Mesmo que ache que não sabe. E sim, faça fotos também de quem diz que não gosta. (Nosso pai era um desses e por isso, as fotos espontâneas sempre foram minhas aliadas).

Com alegria, percebi que tenho 37 fotos lindas onde ele ficou guardado. É um número pequeno para uma vida toda. Mas nelas, todos os trejeitos, o brilho nos olhos e o jeitinho tímido de sorrir que só ele tinha. E toda vez que olho para elas, sinto tudo de novo.

Aqui, ele e minha mãe, num de nossos eventos em família. Uma das nossas preferidas.

Foi por causa dela que nossa mãe se lembrou do quanto eles foram felizes em 60 anos juntos.

Orgulho pai, de ser sua filha. Sempre. Para sempre.

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