Ontem foi o @rogeriobelmiro que me entregou um presente. Ele deve estar exausto de me ver agindo feito maluca nessa quarentena.  Não no isolamento.  Na segunda quarentena dentro desse isolamento.

Sono que falta, choro que sobra, e tem dias que a música é tão doida e tão alta que graças a Deus, a vizinha é família.  Daí, ele marca os programas que sabe que vou gostar.  Os temas que sento, carrego papel e caneta para anotar.  Se estou muito cansada, agenda.  Lembra.  Insiste…  E briga comigo até eu parar e ver.    


Dessa vez conheci a Diane Vreeland.  Já a tinha visto e achado a mulher mais interessante que já passou pela Vogue.  Mas agora ela é uma das mais interessantes nessa prateleira onde moram minhas musas da moda.

Por essa foto entendi só sobre sua exuberância e auto confiança.  Quem mais se misturaria a decoração de uma sala vermelha e maximalista?  

Mas por traz dessa confiança toda tem uma história rica e que merece ser vista.  

Ela teve a sorte de nascer em Paris,  um pai inglês, e ouviu de sua mãe que “era mesmo terrível ter uma irmã bonita e ser tão feia”.  A vida toda.

Foi definida muito tempo depois como “uma mulher que não foi bonita e nem foi rica, mas que criou beleza e riqueza”. 

Foi colaborada e amiga de Coco Chanel, editora da Haper’s Bazar, editora da Vogue, e seguiu evoluindo tanto que deu vida ao Metropolitam Museum of Art.    Porque sua visão de moda sempre esteve ligada a algo muito maior do que vestir. 

Antes dela, a Vogue falava sobre moda. Diane fez ser sobre a vida.

Ela melhorou o mercado.  As mulheres.  E até os homens viram graça em não ter esposas usando uniformes para “pertencerem”.


Quando foi perguntada sobre quem na opinião dela teria um estilo que admirava, respondeu:  “os cavalos indo para uma corrida. Porque tem a dose certa de exagero e exuberância.”   


Ela foi isso, e muito mais.  

Para ela era impossível viver no meio das coisas.   

Desenvolveu sua personalidade através da dor.  Sem falar sobre ela.  Sem pedir ajuda.  Era uma fortaleza.   Amada e odiada em igual proporção, especialmente porque acreditava que num time, ela não deveria trabalhar mais que o resto.  Todos deveriam trabalhar tanto quanto ela.  

Tinha uma voz, uma graça, uma inteligência, uma maneira de misturar o básico com colares e brincos que beiravam o extremismo, e ainda assim, ser um conjunto lindo.  

Tudo que ela era, seus gestos, seus cabelos sempre pretos, sua segurança adquirida abastecendo o lado de dentro, faziam seu nariz ainda mais evidente.  E bonito.  

Foi a esposa de um homem que a enxergou por trás de todos os rótulos.  E ele era lindo.  

Era exagerada, e ainda assim sempre elegante.  Caminhava na linha tênue entre ser ela mesma e ser algo que ninguém jamais poderia alcançar.

Era a mulher para onde todos olhavam ao entrar num salão, tenho certeza disso.  E por algo muito maior que  só um conjunto harmônico.  

A beleza dela morava no caos completo que ela abraçou e fez virar seu maior tesouro.

Não é à toa que Jacqueline Kennedy a admirava.  Ela era capaz de enxergar onde não haveria nada para ver.  

 Com ela aprendi que as palavras não precisam nos determinar.  Elas podem marcar demais.  Podem ser doídas de serem repetidas, mas cabe a nós dar novo significado a elas. 


Talvez, de tudo que vi em seu estilo, o que poderia nos aproximar é  o fato de usar duas pulseiras iguais.   Uma em cada punho.  

Mas sobre ser bonita, isso sim, quero continuar aprendendo com ela.

Ser bonito dá trabalho.  

E ela é prova de que a gente consegue.

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