Li, em algum lugar, que a separação entre mãe e filha acontece duas vezes. Que a ligação se rompe no corte do cordão umbilical e ao longo da vida. Ainda não pesquisei para saber se isso é verdade, mas me fez pensar.
Parte do meu aprendizado como mãe é tentar não repetir o que ouvi na infância porque, hoje, eu sei, nem tudo é verdade. Não mesmo.
Não é verdade que mãe e filha não podem ser amigas e que mulheres não confiam umas nas outras. Não é verdade que os filhos vão sempre preferir as mães e temer os pais e que as meninas, independente da idade, vão sempre competir pelos garotos. Não é sempre verdade. Não precisa ser. Não se formos capazes de construir algo diferente. Se soubermos frear hábitos ruins, medos bobos, costumes sem sentido.
Quero ser capaz de construir uma história bonita com a minha filha. Quero ser mãe e amiga também, porque é possível ser mais de uma coisa pra mesma pessoa. Quero ser companhia, companheira, testemunha e presença feliz na vida dela. Quero que a gente se entenda, se admire, se cuide, se goste, se tenha, como quem escolhe. Não como quem não tem outra alternativa. Quero ser a pessoa com ela tem vontade de conversar, repartir, reclamar, gargalhar e, quando a vida estiver difícil, um pouco da esperança que vai ajudá-la a recomeçar.
Quero muito, eu sei. Mas não por vaidade ou egoísmo. Quero tanto, porque sei que ela merece e tenho tentado aceitar que eu também. Quero ser para ela uma parte do que não tive e, quem sabe, multiplicar tudo de bom que recebi.
Sei que o meu querer não basta, mas torço pra que seja um primeiro passo. E, enquanto eu puder caminhar, enquanto eu puder escolher, estaremos sempre juntas. Principalmente, do lado de dentro.
Para Maya que foi a primeira a ver a nossa foto juntas no chão e que, antes disso, passou a manhã inteira de mãos dadas comigo.