Eduardo Galeano é alguém para desvendar.

Tivemos um encontro tímido ainda, e ele já me ensinou.  

Ele fala sobre as coisas simples mas que inquietam a vida da gente.  E acho que isso é o que me fez prestar atenção nesse nome toda vez que vejo.  

O primeiro conto que li deve ser o mais conhecido dele.  Fala de um pai que leva o filho para ver o mar pela primeira vez.   Descreve um trajeto longo e difícil, e que quando eles avistam aquela imensidão, lá do alto, que a beleza era tanta que atinge o menino de forma física, e quase sem conseguir falar, ele pede ao pai para ensiná-lo a olhar.


Achei isso lindo e tão forte.   Quem descreveria algo tão profundo numa experiência entre pai e filho?  Ele poderia ter dito que os dois se sentaram e ficaram mudos olhando para imensidão toda.  E ainda sim seria bonito.  

Mas ele quis falar sobre a diferença entre ver e olhar. Esse livro –  o “livro dos abraços” –  é um desses presentes lindos.  E sabe?  Acho que andamos precisando desses.  
Livros com dedicatórias, desenhos feitos por nossas crianças, pão fresquinho deixado na porta de casa, um pote de vidro com morango doce, mas com o bilhete escrito à mão que faz a gente esquecer o resto.  Mensagens deixadas só para você.  E não só comentários.  Plantas com seu nome em outras casas.  Flores para agradecer por você não ter desistido no “primeiro não”.  Mais do que você gostaria para si mesmo, sendo divido para outra pessoa que não tenha dito que precisa.  Sim, porque muitas vezes a gente precisa, e nem sabe.  Ou nem diz.


Precisamos de outros abraços que não sejam só os físicos.  Olhar para as coisas e não só vê-las.  Porque essa é a diferença.  Quando você olha, você realmente vê. É demorado.  É com interesse.  É com todas as impressões que você teve e que ainda estão se formando sobre em quem confiar, sobre o que é seguro, o que te move; o que te comove. Parece difícil e confuso.  E às vezes é.  

Essa diferença fica perdida dentro de casa, com a gente.  Ainda mais agora.  

Mas quando tudo do lado de fora parece difícil demais e improvável, é hora de acionar toda potência do nosso olhar.  Deixar o ver ser mais profundo.  Isso é olhar.

E nessas horas, Galeano nos guia.    

Em textos simples, quase diretos, mas com uma poesia sutil e delicada onde precisamos nos demorar. Ele me resgata.  Me faz ter esperança.  

É uma esperança possível porque me dá a certeza de que tudo que preciso está primeiro em mim.  Nas minhas memórias.  Na forma como senti e absorvi a vida.  E na promessa leve de que se ainda não estou feliz com o que conquistei, posso conseguir.  Posso melhorar.

Nada me pesa no que li dele até hoje.  Pelo contrário.

Ele me faz acreditar.

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